Refrigerantes sem açúcar, chamadas de ‘diet’, ‘light’ ou ‘zero’, são comumente associadas a estratégias para evitar o ganho de peso e são vistas como mais saudáveis que as bebidas com açúcar. Contudo, seu consumo não garante que esse objetivo seja alcançado, de acordo com um estudo publicado na revista científica PLOS.
Segundo especialistas da USP (Universidade de São Paulo), da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e do Imperial College London, os adoçantes artificiais presentes em alimentos não produzem efeitos positivos comprovados no organismo e no controle do peso.
Para os pesquisadores, o problema é que, apesar de conterem menos calorias, bebidas com adoçantes podem desencadear o consumo compensatório de alimentos. Isso porque o sabor doce engana nosso organismo, que perde o controle da regulação das calorias que são ingeridas e que são gastas. Dessa forma, a sensação de saciedade que deveria ocorrer acaba não aparecendo ou aparecendo tardiamente.
“Ao entrar em nosso organismo, o adoçante é reconhecido pelo cérebro como ‘doce'”, explica Thiago Hérick de Sá, pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da USP e um dos autores da pesquisa. “O corpo então se prepara para receber essa energia [do açúcar] que acaba não chegando”, diz. Assim, nosso corpo continua perseguindo essas calorias sinalizadas pelo adoçante. É aí que comemos mais.
A impressão de estar se alimentando com algo mais saudável também poderia induzir as pessoas ao consumo compensatório. “Por estarem comendo algo ‘light’, se sentem autorizadas a comerem mais”, diz Sá.
Outro problema está no fato de bebidas sem açúcar não deixarem de estar associadas a outros alimentos muito calóricos. “A pessoa vai tomar um refrigerante sem açúcar com uma pizza, um sanduíche, exemplifica.
Trocar refrigerante por industrializado não adianta
Na lista de bebidas adoçadas artificialmente e que não contribuem para o controle do peso estão inclusos sucos, achocolatados, energéticos, iogurtes e chás gelados. “Muita gente acha que bebida com adoçante é só refrigerante”, diz Sá.
Assim, trocar refrigerantes por outras bebidas industrializadas sem açúcar não faz diferença.
Para o especialista, adoçantes naturais, como o stevia, retirado da estévia (um pequeno arbusto), também não garantem controle do ganho calórico. “É a mesma coisa, não importa o tipo de adoçante. Vão funcionar os mecanismos compensatórios devido à sinalização da energia que não chega ao corpo. E as pessoas vão se permitir mais”, afirma o pesquisador.
“É muito comum a indústria enxergar a nutrição sob uma ótica muito limitada, da substância que é utilizada”, diz Sá. “Então, a discussão é se é bom o stevia ou o aspartame, uma lupa estreita e limitada, que não mostra o contexto. Comer é muito maior, é uma prática social e cultural. Comemos comida, bebemos bebida, não stevia”, diz.
De acordo com a pesquisa, 25% do total de bebidas industrializadas consumidas no mundo é de bebidas com adoçantes.
Então, qual bebida é saudável?
Se não há diferença entre bebidas com açúcar e adoçadas artificialmente, o que seria saudável? De acordo com Sá, a regra básica é evitar bebidas utraprocessadas (industrializadas que possuem grande quantidade de substâncias artificiais), que favorecem o consumo excessivo de calorias por “enganar” o nosso corpo.
O pesquisador indica o Guia Alimentar Para a População Brasileira, elaborado pelo Ministério da Saúde, como uma “forma simples para as pessoas decidirem o que comer e o que não comer”. Para ele, a melhor fonte de hidratação é a água.
De acordo com o Ministério da Saúde, “quando consumimos alimentos ultraprocessados, tendemos, sem perceber, a ingerir mais calorias do que necessitamos”.
O guia informa que alimentos ultraprocessados possuem de duas a cinco vezes mais calorias por grama que alimentos naturais, como sucos naturais e o tradicional arroz com feijão.