O cantor tem levado à risca um conselho dado para si mesmo recentemente: deixar o sedutor Magal ir embora aos poucos
Cada vez que é abordado por um antigo admirador –na maioria das vezes, saudosistas dos anos 1970 –, Sidney Magal faz questão de deixar as coisas às claras: a figura do amante latino, imortalizado em música (em 1977) e filme (em 1979), já não é mais o mesmo.
Sorridente, ele faz questão de dizer que não requebra como antes por culpa da barriga saliente e que, se ainda faz caras e bocas, é por conta da dor no nervo ciático. “O público fala: ‘Cadê aquele salto alto? Cadê aquela calça apertada? Os peitos de fora?’. Minha filha, meu peito está caído, não dá mais para usar essas blusinhas”, ele ri.
Aos 63 anos, Magal agora veste outro personagem, uma espécie de guru de autoajuda, que só aparece para os fãs da terceira idade. A missão agora não é mais fazer o sangue ferver, mas sim, mostrar que a vida ainda pode valer a pena.
Ou pelo menos este é seu papel na comédia “Magal e os Formigas”, do diretor Newton Cannito, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (15). No filme, Magal interpreta a si próprio como uma espécie de fantasma, visível apenas para o aposentado João (Norival Rizzo), que sofre com a falta de perspectiva na velhice.
“Nessa idade as pessoas vão murchando, se desestimulando. Eu recebi milhares de cartas falando coisas como ‘estou no hospital, estou ouvindo sua música e sei que vou sair dessa’. Isso é muito forte. É muito bom saber que seu trabalho dá um ‘up’ na pessoa”, observa.
O papel, no entanto, não tem servido apenas à ficção. O cantor tem levado à risca um conselho dado para si mesmo recentemente: deixar aquele sedutor Magal ir embora aos poucos.
“Passar dos 70 anos me rebolando feito uma louca no meio do palco vai ser complicado”, ele observa, às gargalhadas. “Eu preciso desse momento como ser humano, como homem. Eu preciso me acostumar com o que vem pela frente. Quero envelhecer dignamente.”
Magal fala com leveza sobre os planos, sem se lamentar: “Acho que eu posso começar a diminuir [o ritmo] para virar um cantor romântico e aguentar até os 70 e pouquinho. Por enquanto, está dando. Se essa coluna deixar, eu ainda vou adiante”, explica. “Mas a tendência é acabar tudo, acabar com a carreira. Eu não vou forçar a barra de jeito nenhum.”
A vida após Sandra Rosa Madalena
O aviso pode parecer estranho para quem invejou a malemolência do cantor na “Dança dos Famosos” este ano ou o viu arrastar 40 mil pessoas na estreia de seu bloco carnavalesco em São Paulo.
Ele promete repetir a dose em 2017, nas vésperas de completar 50 anos de carreira. Além da folia, Magal prepara sua volta ao estúdio com um repertório inédito de música latina, e inicia as filmagens de uma ficção baseada no que chama de “a maior história da minha vida”, seu casamento de 37 anos com Magali, hoje sua empresária. O filme terá direção de Paulo Machline (de “O Filho Eterno”, em cartaz).
“As pessoas precisam saber que eu não vou cantar só ‘Sandra Rosa Madalena’ até o último dia da minha vida. Eu posso fazer mil e uma coisas legais também”, ele diz, apontando para o cartaz de “Magal e os Formigas”.
Enquanto a fatídica hora não chega, ele continua rindo das lembranças dos admiradores e se diverte com as antigas apresentações no YouTube: “Tem uns biquinhos ridículos que eu fazia nos anos 1970. Eu olhava para câmera e fazia a narina abrir e fechar. O que é isso, gente?”, gargalha. “Eu parecia um cavalo selvagem”.